DOM TIMÓTEO E O SEU ACERVO
Por Dom Gabriel Alves do Amaral, OSB
e Joaquim Rodrigo de Souza Dourado
"Houve um homem, bento por Graça e bento por nome” Estas são palavras de São Gregório Magno se referindo a São Bento. Desde então, homens e mulheres a exemplo desse “Homem de Deus” como também o chamava São Gregório, se destacaram e foram influentes não só para vida dentro dos mosteiros e para seus monges como também fora deles visando principalmente ao bem para a sociedade. Um exemplo insigne foi Dom Timóteo Amoroso Anastácio. Nosso trabalho cita-o pelo seu centenário. Investigamos também através de seu acervo sua relação com a sociedade baiana destacando principalmente sua atuação frente o golpe militar. A princípio, nesse estudo apresentaremos um histórico da instalação do Mosteiro de São Bento da Bahia bem como também o seu Arquivo, esclarecendo o conceito do mesmo.
Palavras-chave: Mosteiro de São Bento da Bahia. Dom Timóteo Amoroso Anástacio. Arquivo. São Bento. Monges
O MOSTEIRO E A ORDEM - Dom Gabriel Alves do Amaral, OSB
Era desejo da população do Novo Mundo que se instalasse nas terras baianas um Mosteiro da Ordem de São Bento. Desejo solicitado. Em 29 de Setembro de 1581 o quarto Capítulo Geral se reuniu em Lisboa elegendo para o cargo de Geral o Pe. Frei Plácido de Vilalobos. Este escolheu o Revmo. Pe. Frei Antônio de São João de Latrão Ventura como primeiro fundador e superior do Mosteiro que pretendia fundar na Bahia. Junto com ele foram incumbidos para esta missão mais de oito monges, todos com grande capacidade de construir uma obra digna para o serviço dos fiéis e à glória de Deus.
A movimentação missionária desses beneditinos levou-os a seguir mais adiante, com as obras bem adiantadas e com número de vocações crescendo, a fundação foi consolidada e, no Capítulo Geral, onde mais uma vez o Pe. Frei Plácido de Vilalobos foi eleito Geral, a fundação da Bahia passava ser a incorporada a Congregação de Portugal e seu Mosteiro elevado à Abadia sob a autoridade, tendo como primeiro Abade do Mosteiro de São Sebastião da Bahia, o mesmo Frei Antônio Ventura de Latrão.
Este primeiro Abade deu continuidade à obra de Deus que tanto agradou os habitantes do Novo Mundo. Para tanto, a Sra. Dona Catarina Álvares Caramuru ou Paraguassú, por escritura de Julho de 1586, fez um grande benefício aos beneditinos, doando a Ermida de N. Sra. da Graça com toda a prata e ornamentos de sua casa para que se pudessem fazer um relicário e um lampadário para o santuário. Não obstante, outros benfeitores foram surgindo, dentre eles estão o Sr. Francisco Afonso “Condestável” e sua esposa. Estes, por sua vez, fizeram outra grande doação, passando às mãos dos monges, por escritura, boa parte de suas posses: as terras do Largo da Piedade, Portão da Piedade (Av. Joana Angélica), atingindo até as terras da Igreja do Rosário e toda a área do Barris. Outro doador que deve ser mencionado é Gabriel Soares, o qual doou outra parte de terra aos monges, exigindo como troca um túmulo dentro do mosteiro.
Assim, muitas foram as doações para a construção da obra de Deus; terras, casas, fazendas, engenhos, sítios e capelas foram destinadas aos monges para que tomassem conta. Deu-se início a construção da primeira abadia beneditina do continente americano.
Em 22 de agosto de 1596, o Capítulo Geral da Congregação Portuguesa cria a Província dos beneditinos na Brasil, o mosteiro de São Sebastião da Bahia se torna casa-mãe, recebendo, canonicamente pela Santa Sé, através de bula pontifícia, o título de Arquecenóbio do Brasil. Assim, os mosteiros de Olinda, fundado ainda no século XVI, e o mosteiro do Rio de Janeiro foram elevados a abadias pela mesma bula pontifícia.
O mosteiro de São Sebastião da Bahia não teve apenas momentos de glória. A tentativa de colonização dos holandeses é a prova de um grande conflito entre holandeses e portugueses. Como reflexo disso, a abadia foi totalmente tomada pelos holandeses no século XVII no ano de 1624. Dessa forma, os monges foram obrigados a desocupar o mosteiro, indo abrigar-se nos engenhos do Recôncavo. A notícia chega a Portugal, e o Abade Geral inteirado dos estragos que a comunidade havia sofrido, enviou mais três monges, e foram solicitados reforços para que os monges que estavam dispersos no recôncavo baiano voltassem ao mosteiro. Alguns voltaram e ajudaram na reorganização da Abadia.
À medida que os anos e os séculos iam se passando, o mosteiro caminhava, junto à comunidade, construindo a história de um patrimônio arquitetônico que valorizava a Ordem de São Bento e a própria história da Bahia.
Quando se trata de falar da história desse patrimônio não se pode deixar de mencionar os nomes de Frei Agostinho da Piedade, Frei Ricardo do Pilar, Frei Domingos da Transfiguração Machado, Frei Bernardo de São Bento Correia, Frei Macário de São João, Dom José Endres, Dom Clemente Maria da Silva Nigra (Dom Clemente foi o primeiro diretor do Museu de Arte Sacra da Universidade Federal da Bahia, fundado em 1958), Dom Paulo Lachemayer (Dom Paulo trabalhou junto com Oscar Niemayer na catedral de Brasília nos anos de 1960 e 1961), escultores, artistas, escritores, arquitetos e historiadores fizeram parte da história do mosteiro de São Sebastião da Bahia.
Quem também merece destaque no meio de tantos homens ilustres, é Dom Timóteo Amoroso Anastácio, homem sereno e fiel ao serviço de Deus, conquistou a sociedade baiana lutando a favor dos mais oprimidos pela ditadura militar. Dom Timóteo aplicou suas forças em defesa desses perseguidos e não escondia sua preferência pelo sistema democrático.
Hoje, em nosso estudo o saudamos pelo seu centenário se estivesse vivo. Dom Timóteo, como era de se esperar, tem um importante acervo no Arquivo do mosteiro, a partir dos quais se pôde fazer uma boa biografia e levantar dados importantes de sua vida.
O ARQUIVO DO MOSTEIRO - Joaquim Rodrigo de Souza Dourado
A palavra arquivo vem do latim archívum, local onde são guardados documentos.
Na teoria arquivística, um arquivo possui três idades. Arquivo corrente (Primeira idade), Arquivo Intermediário (Segunda idade) e Arquivo permanente (Terceira idade). O que nos interessa agora é o arquivo permanente ou arquivo histórico, sendo que a função deste é recolher e tratar a documentação (para preservação definitiva) que já teve seus prazos de vigência esgotados visto que, segundo Heloisa Belloto 2007 os documentos passam da condição de “arsenal da administração” para a de “celeiro da história”.
O Arquivo Histórico do Mosteiro de São Bento da Bahia existe desde a fundação do mosteiro, em 1582. É um arquivo privado e está localizado na clausura do mosteiro. Podem ter acesso a ele apenas pesquisadores em nível de Mestrado e Doutorado. Para tal, é necessário que o pesquisador traga uma carta do seu programa de pós-graduação (informando o documento ou o assunto a que se pretende ter acesso), para que esta possa ser avaliada pelo monge arquivista (única pessoa que poderá dar a referida autorização). A partir da entrega da carta, o monge arquivista, em geral num prazo de trinta dias, dá a resposta ao pesquisador, informando se foram ou não localizados os documentos solicitados. O pesquisador, em nenhum momento, tem acesso às dependências do arquivo, e a consulta da documentação é feita na biblioteca do Mosteiro com a supervisão e o auxílio do monge arquivista. No entanto, é indispensável salientar que, por ora o Arquivo encontra-se fechado para pesquisa externas, devido ao projeto de catalogação em execução pela própria instituição, no qual se está fazendo o levantamento e a informatização documental.
O arquivo dentro de um mosteiro serve para salvaguardar a memória da ordem religiosa, neste caso, a da Ordem Beneditina e dos seus monges. Em contrapartida, preserva também uma parcela da história da cidade do Salvador. Cada monge, falecido ou não possui, caixas dentro deste arquivo e, dentro destas caixas, se encontram conteúdos diversos. O arquivo de Dom Timóteo é composto de cartas, cadernos de anotações, caderno de homilias, alguns objetos pessoais, como um solideum, seu diploma de advogado, etc.
DOM TIMÓTEO
Dom Timóteo nasceu em 12 de julho de 1910, com o nome de Luis Antonio Amoroso Anastácio, na cidade de Barbacena (169 km de distância da capital Belo Horizonte) em Minas Gerais. Descendente de italianos por parte de pai, tinha mais seis irmãos, tendo sido o terceiro filho de Antonio e Regina Monteiro Amoroso Anastácio. Luis fora batizado em 22 de setembro de 1910, naquele mesmo ano, o cometa Halley cruzou o céu da cidade. Concluiu seus estudos secundários em Juiz de Fora.
Fez faculdade de Direito no Rio de Janeiro, concluindo o curso em 1933. Casou-se em 29 de Julho de 1935 com Jenny Reis Hungria. O casamento não durara muito, pois sua esposa começara a apresentar sinais de uma gripe; foi diagnosticada tuberculose, vindo a falecer em 1 setembro de 1938.
Luis Antonio exerceu a profissão de advogado de 1933 a 1938. Deixa tudo para tornar-se monge, ingressando no mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro em setembro de 1940, e passando a chamar-se Timóteo que dizer Timo → Honra; Teos → Deus = Pela Honra de Deus. Fez sua profissão monástica em 11 de julho de 1940. Foi ordenado sacerdote em 21 de dezembro de 1946. Estava em Brasília quando foi eleito Abade em 31 de agosto de 1965, após o falecimento de Dom Plácido Staeb, em 6 agosto do corrente ano. Tendo renunciado a este cargo no dia 8 de abril de 1981. Em meados da década de 80 recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia e a medalha “Dois de Julho” da prefeitura de Salvador por ocasião dos festejos de seus oitenta anos.
Dom Timóteo faleceu em 2 de agosto de 1994 e, segundo o Dietário do Mosteiro (livro que traz a biografia de todos os monges que viveram e morreram no Mosteiro), Dom Timóteo "[...] dedicou-se inteiramente a vida monástica sem por isto perder de vista as preocupações com os problemas sociais, tendo sido considerado pelos baianos como uma personalidade marcante na Bahia. Dedicou toda a sua vida a defesa dos valores morais e éticos, demonstrando um verdadeiro espírito cristão."1.
Dietário dos monges que faleceram no Arquicenóbio da Bahia para o dia 2 de agosto, lido durante o jantar do dia 1 do mesmo mês.
achei um livro pq de dom timóteo,de 1968. parece que é um ensinamento para padres, interessa para o acervo
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